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Jornada rumo a Curitiba

Era uma terça-feira gelada em São Paulo, 09 de maio, e moradores de prédios ocupados por movimentos de moradia no centro da cidade se juntavam para uma longa caminhada. São mais de 10 horas da noite e dois ônibus encostam num trecho da famosa Avenida São João. Hora de percorrer cerca de 410 km, rumo a Curitiba, para acompanhar o depoimento do ex-presidente Lula na Operação Lava Jato, feita pela Justiça Federal. Lá se juntariam ao acampamento da "Jornada de Luta Pela Democracia e Defesa dos Direitos" e a outros tantos, tais como, os grupos militantes de movimentos por moradia e terra, estudantis, sindicatos, partidos e populares vindos de todo o país.


O acampamento, montado na cidade dias antes, foi feito pelos companheiros para recebê-los. Depois de enfrentar uma noite gélida e uma parada forçada para averiguação, logo na entrada da cidade, chegaram a Curitiba. Eram quase 07:30 da manhã, 10 de maio, dia do depoimento.


No acampamento havia tendas com colchões, barracas, algumas com panelões que já preparavam o almoço. Em uma das barracas uma placa dizia “Marmita 12,00 reais”, enquanto outras serviam o café de manhã na “faixa” - um pão com queijo e a famosa mortadela, acompanhado de um cafezinho melado com leite. Era possível perceber que ali era lugar de gente humilde, pessoas que vieram por acreditar na inocência de um homem que, anos atrás, lhes deu a oportunidade de consumir, “de melhorar” um pouco de vida. Ao verem o atual governo destruir as conquistas que beneficiaram a camada mais pobre da sociedade, ou simplesmente por vislumbrarem um futuro incerto e obscuro, essas pessoas escolheram defender alguém que, acreditam, possa reverter e estabilizar a situação atual.

Hora de marchar: por volta das 11:30, um grupo de cerca de 500 pessoas saiu do acampamento e percorreu a Avenida Dário Lopes dos Santos, Mariano Torres e XV de Novembro, em direção ao ato que ocorria na Praça Santos Andrade, em frente à Faculdade Federal do Paraná. Gritavam palavras de ordem e apoio a Lula, o tradicional “Fora Temer” e chamavam a vizinhança para participar. Ali, muita gente entre juízes, advogados, líderes de movimentos sindicais e sociais discursaram ao longo do dia. Apenas a noite, após o depoimento, poderiam ver quem tanto aguardavam.

Um grupo de cerca de 40 pessoas do MST, sem chamar muita atenção, decidiu antecipar a visita e dar apoio a Lula, logo na sua chegada para depor. Ônibus cheio, gente de pé, janelas fechadas. Os camponeses seguiam cortando as ruas da cidade até onde fosse possível, pois a Polícia Federal havia feito um grande bloqueio nas redondezas. Cinco minutos de atraso e acabariam perdendo a oportunidade de apertar a mão de um dos homens mais famosos do mundo político.

Ao chegar, o carro que trazia o ex-presidente parou antes do bloqueio. Lula queria falar com a imprensa e com os militantes, mas o caos se instaurou em meio ao mar de câmeras, empurrões e perguntas quase inaudíveis.


De volta à Praça Santos Andrade, militantes e populares cantavam e se mobilizavam, aguardando ansiosamente o término do depoimento. Foram mais de 5 horas de perguntas e respostas a portas fechadas. Porém, uma câmera instalada dentro da sala registrava todo o depoimento para que, posteriormente, seu conteúdo pudesse ser divulgado integralmente e analisado. Assim como parte da grande mídia tendenciosa editou e apresentou trechos da filmagem, mais adequados a sua linha editorial, muitos internautas e telespectadores, incapazes de acompanhar 5 horas de filmagem, registrariam apenas frases de efeito e agulhadas capazes, talvez , de render alguns memes.

A praça se encontrava vermelha. Curitiba se encontrava vermelha. E a jornada se encerrava. Eram quase 9 horas da noite. Todos aguardavam ansiosamente a presença e o pronunciamento de Lula. Antecedendo seu companheiro de partido, a ex-presidenta Dilma Rousseff apareceu para algumas palavras de apoio. Em seguida, ouviram-se gritos por toda a praça. Era a hora esperada! Milhares de pessoas a postos para ver e ouvir o homem mais amado e odiado da história política pós-ditadura. Celulares erguidos para registrar o momento histórico, transmitido via Facebook, Twitter, Whatsapp. Um breve discurso que alegrou e trouxe alento à multidão. Era o fim. Pés e pernas doloridas, barrigas falantes, cabeças pesadas, porém o sentimento de dever cumprido. Hora de voltar à rotina.


Curitiba parava de novo, pois as ruas que levavam ao acampamento foram tomadas por gente simples e humilde, guerreira e batalhadora, de coração honrado e com a esperança de conquistar outras vitórias.


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