Festa do Divino - São Luiz do Paraitinga 2017
A Festa do Divino Espírito Santo é uma das comemorações populares católicas mais difundidas no Brasil. Ela acontece 50 dias após a Páscoa, no domingo de Pentecostes. Em Portugal, sua origem remonta ao século XIII/XIV, onde a terceira pessoa da Santíssima Trindade é celebrada com banquetes oferecidos à população pobre (Bodo aos Pobres) e a distribuição de esmolas.
No Brasil, devido a invasão e colonização portuguesa, acredita-se que o festejo ocorra desde o século XVI. Até hoje essa festa folclórica é celebrada nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Rondônia (Brasil/Bolívia), Goiás, Maranhão, Bahia, entre outros. A mais famosa pertence à cidade de Pirenópolis (GO) e acontece todos os anos desde 1819 (ano do primeiro registro). Em 2010, foi reconhecida pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro.
É possível também notar, nessa tradição, aspectos da resistência das culturas indígenas e africanas à cultura dos colonizadores portugueses. Exemplo disso é a dança Caiapó . Ela tem origem indígena e conta a história de um indiozinho assassinado por homens brancos e ressuscitado pelo pajé, através de defumações e danças ao redor de seu corpo. No Caiapó não há música nem canto, apenas percussão. Outras duas danças típicas, vinculadas à Festa do Divino, são o Moçambique e a Congada. Em seu dicionário Dicionário do Folclore Brasileiro, Câmara Cascudo traz uma citação de Antonio Americano do Brasil sobre uma "Dança africana, como explica a palavra que a caracteriza, moçambique. Foi conhecida e usada nos sertões pelos primeiros escravos mineiros trazidos para o trabalho da extração de ouro", porém logo em seguida ele próprio afirma que "em sua apresentação contemporânea nenhum elemento tipicamente africano sobreviveu [...] é um nome africano num conjunto coreografado já nacionalizado". Finalmente, a congada, também conhecida como congado e congo, mescla tradições católicas e africanas. Segundo Cascudo, são "autos populares brasileiros, de motivação africana, representados no Norte, Centro e Sul do país". O ápice se dá quando o rei e a rainha do Congo são coroados.
Apesar de todas as festas dedicadas ao Divino Espírito Santo seguirem certos ritos comuns, cada localidade traz em seu festejo características próprias da cultura e história local. Em São Luiz do Paraitinga, dois personagens se destacam, Maria Angu e João Paulino, os famosos bonecões. Segundo a história local, João Paulino, morador da cidade, era casado com Maria, uma vendedora de pastéis de angu. O marido teve a ideia de criar dois bonecões, com os nomes do casal, para atrair e entreter crianças e jovens durante as festividades do Divino.
O afogado é um prato típico da Festa do Divino, tanto na histórica cidade do Vale do Paraíba, como em Mogi das Cruzes. Trata-se de um ensopado de carne, batata e macarrão acompanhados com arroz e farinha de mandioca. A tradição diz que são os homens quem deve cozinhar, cabendo às mulheres apenas tarefas menores, como descascar e picar legumes. A refeição é distribuída de forma gratuita para a população.
Outro costume dessa tradição é a decoração das casas. Alguns apenas enfeitam as janelas e colocam bandeirolas com a pomba branca, que representa o Espírito Santo. Outros produzem algo mais elaborado, conhecido como o Império do Divino, decoram paredes, constroem altares e abrem as portas de casa para a população.
Mesmo sobrevivendo ao passar dos séculos, a sensação é de que a Festa do Divino passa por uma intensa batalha para sobreviver à era da tecnologia, da informação rápida. Apesar de ser uma importante festividade folclórica que revela muito a respeito da história do nosso país, é de matriz claramente católica. Em um Brasil onde, segundo o Data Folha, a Igreja Católica perdeu 9 milhões de fiéis num período de dois anos, festas religiosas como essa perigam perder cada vez mais participantes e até desaparecer.
Fontes:
Dicionário do Folclore Brasileiro - Câmara Cascudo